sábado, agosto 20, 2005

A Fraternidade das Palavras

O céu
É uma m’ benga
Onde todos os braços das mamanas
Repisam os bagos de estrelas. Amigos:
As palavras mesmo estranhas
Se têm música verdadeira
só precisam de quem as toque
ao mesmo ritmo para serem
todas irmãs. E eis que num espasmo
De harmonia como todas as coisas
Palavras rongas e algarvias ganguissam
Neste satanhoco papel
E recombinam o poema.

José Craveirinha *

m’benga - pote de barro
mamanas – mulheres
ronga – dialecto mais meridional do grupo linguístico banto tsonga. É falado numa pequena área que inclui a cidade do Maputo
gangussam – namoram
satanhoco – uma coisa que não presta
*José Craveirinha nasceu no bairro da Mafalala, no Maputo, capital de Moçambique, em 28 de Maio de 1922. Foi durante muitos anos jornalista, tendo passado pelo “Notícia”,” O Brado Africano”,”A Tribuna”, “Notícias da Beira”, “O Jornal” e a “Voz de Moçambique”. Antes da independência de Moçambique teve actividade política contra o regime colonial. Esteve preso de 1965 a 1969. Foi galardoado com vários prémios, o último dos quais o Prémio Camões em 1991. Foi o primeiro presidente da Associação dos Escritores Moçambicanos. Publicou as seguintes obras: Chigubo (1964), Cântico a um dia de Catrame (1966), Karingana ua Karingana (1974), Cela 1 (1980), Maria (1988, poemas dedicados à falecida mulher). Morreu a 6 de Fevereiro de 2003, em Joanesburgo, África do Sul, onde se encontrava hospitalizado devido a um acidente vascular cerebral.

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