Crechas
meigas palavras
tochas acesas
luzes endiabradas
árvores que renascem das cinzas
corpos nus que se cobrem
como vergonhas de um riso
por medo de um sorriso
vespaneiro
sabes? não. não sabes nada
nem sequer sabes que nada é muito
como olhar para o céu
não é elevarmo-nos
é terrificarmo-nos
no pior e no melhor
de nós e da Terra
nós não a vemos
ela tem-nos a seus pés
e não poderemos alguma vez voar
enquanto não honrarmos o chão
desculpas não se dão ou tiram
perdão é como quem dá
ou tira
tostão
ou outros
sentes?
a manhã arrepiou-me mais uma vez
como um preguiçoso pendurado
de uma árvore sem frutos
disse-me que os pássaros
não vieram ao acaso
cantam à Terra o céu fabuloso
que trouxe ao olhar
de uma toupeira iluminada
sentes a cidade a estupidificar as folhas das Àrvores?
sentes os homens mais embrutecidos de mãos limpas e delicadas a foderem a Terra sem lhe tocar?
como um Cura a baptizar crianças depois de sodomizar a mãe de uma família qualquer
vês os pássaros no chão de betão?
bicam pequenas migalhas como sempre
procuram em qualquer chão
sentes que a manhã não nos trouxe nada mais que o vazio de estarmos sós perante um céu magnífico de recortes de luz e nuvens?
desenhos de crianças que já não são
olhar por esta janela de trem
não me faz ver
porque é um espelho que confunde
o olhar que difunde e procura
o que vem da noite escura
e surge na manhã madura
a flor que da Terra sai
como um sorriso ou ironia
ou desespero de criação
a flor a ilusão
de perseguir a paixão
ao respirar de agora em frente
sonhar em sempre
a quimera de uma primavera
o olhar eloquente de um crente
no nada que habita
fundações do amor
escrito na madrugada de 28/07/05
na viagem de comboio entre Coimbra-Porto
6hs da manhã
blandino
sexta-feira, julho 29, 2005
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