segunda-feira, agosto 01, 2005

Cantar?...

Cantar?...

Cantar?.. Mas o quê?
A minha peçonha?
A inveja? O revés?
A dor de ser firme?

(Ah! Tenho vergonha
da minha nudez
não quero despir-me.)

Cantar, solitário
O eterno da curva
No meu aquário?

Cantar com desdém
- silêncio na Corte
que el-rei se masturba!
- eu só, mais ninguém?

Eu, raio-que-o-parta,
Em transe e prestígio?
Eu, o aristocrata
De barrete frígio?

Não posso!... não quero!

Cantar?.. Mas o quê?

Os outros?... os ecos
Do meu próprio drama
E outras cavernas?
Mas como?... de cor?

só vejo suor
por fora na pele…
mas nada por dentro…

chuva que gelou
em cordas no ar
e para ali ficou
só meio destino
- nem sol nem luar…

Cantar?.. Mas o quê?
O muito que sinto
no além que penso?

Poeta é ser nada!
- espanto suspenso
sobre um labirinto
sem porta de entrada.

Por mais que ele berre
Não passa do risco….

José Gomes Ferreira, extractos do poeta militante

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