sexta-feira, julho 29, 2005

Auto-retrato

Chamem-me pardal
Não me faz mal
Não me assusto
Por não ter poleiro
Não há milho puro
Como o primeiro

Chamem-me palhaço
Alargo o passo
Não me envergonho
Atrás do pássaro
A nado o voo
Segue-me o rastro

Chamem-me cigarra
Não me desgarra
Nunca me calo
Canto vou danço
Trilho à formiga
Carreiro e ralo

Chamem-me cigano
Eu não me engano
Á luz da guitarra
Ao som da fogueira
Mordo a costela
Vadia que tenho

Chamem-me burro
Eu não me empurro
Entre fardo e fado
A estrela me guia
Do vosso colo
Ao cu do celeiro

Chamem-me criança
Não me descansa
Poder e dinheiro
na morte os vereis
um pardal velho
a rir-se ao espelho


Joaquim Castro Caldas

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